A Saudade do Cheiro

Setembro de 2000.

Mesmo a dormir, embalada no mais profundo do meu sono, os meus pés tremiam como se aquele viésse a ser o dia mais importante na revolução da televisão.
      A minha mãe veio, em tom alto, acordar-me. Aparentemente, haviam passado 18 horas, mas na verdade somente 09h. Levantei-me e preparei-me rapidamente, para o grande dia que me esperava.
Lembro-me de, sentada no carro branco, ouvir os meus dentes a fazerem estalinhos, provocados pelos nervos.
- Chegámos filha. Anda, vamos. - Disse a minha mãe.
- Não mãe, não quero ir!
- Vem, vais gostar da nova escola, Queluxa.
A escola tinha um pátio bastante grande, com dois campos de desportos, um grande pedaço de areia junto do eucalipto grande, e ao pé da minha sala existia o jogo da macaca gravado no alcatrão a amarelo.
Pouco depois das 09h30 da manhã, chamaram a primeira turma, 1ºA. Fiquei desde logo a saber que minha sala era a que ficava mais próxima dos cabides. Segui os meninos e lá fui, sempre com a minha mão colada à da minha mãe.
A sala tinha um cheirinho que ainda hoje não esqueci, tal como a cor vermelha das janelas.
A professora foi muito atenciosa e acolheu-nos de uma forma maternal, não só nesse dia, mas em todos os outros também.

O dia que mais me marcou naquele percurso de um ano, foi o dia de Carnaval. Todos os meninos rastejaram um sorriso de orelha a orelha ao longo do dia. Todo aquele ambiente foi maravilhoso: as milhares de cores que enfeitiçavam a cidade, enfeitiçaram a cara de todas as crianças que naquele dia assistiram ao cortejo da cidade de Ourém. Ao longo de 4 anos, várias foram as lágrimas e dores de arranhões, gritos e birras, mas saí daquela escola com a certeza de que jamais iria encontrar um conjunto de pessoas tão carinhosas, tão humildes.

Hoje, ainda sinto o cheirinho da sala junto aos cabides, tal como no primeiro dia.